segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

DOUTORES A MARTELO!

"A massificação dos doutoramentos, que triplicaram em dez anos, abriu a porta ao negócio e à falsificação. Vendem-se teses por milhares de euros e alguns são plágios. Só pontualmente é que os professores dão conta de que se trata de cópias, facilitadas pelas bases de dados na Internet."
Confesso que fiquei abismado com esta notícia... [aqui]. É certo que fazia uma ideia, nunca imaginei que tivesse esta dimensão. É que miúdos de secundário a retirarem uns trabalhitos à pressão da internet ainda é compreensível, apesar de muito mau sinal. Mas isto ultrapassa o razoável. Acredito que sejam sobretudo doutoramentos nas áreas de Letras e Ciências Humanas (em outras áreas considero mais complicado, apenas porque tem de haver um mínimo de trabalho prático sério, ou então não...) mas não deixa de ser preocupante.
Plagiar uma tese de doutoramento, fazer corte e costura da web, comprar um trabalho científico desta importância, encarar desta forma tão leviana uma coisa deste tipo é inclassificável. Nós, que gostamos tanto de reclamar o tão famoso dinheiro público, dinheiro que sai do bolso dos contribuintes, devemos também pensar seriamente nisto. Devemos perceber que muitas destas pseudo-teses e destes pseudo-doutores recebem bolsas razoáveis (não dá para enriquecer, é um facto...) durante todo o tempo da sua formação, bolsas que vêm directamente de dinheiro público, o dito cujo.
Pensemos também, e principalmente é o que me preocupa, que muitos destes "doutores" estão sob a orientação directa (ou inexistente...) de docentes universitários, que se nem sequer se apercebem destes absurdos casos, então a coisa está muito mal parada... E se pensarmos que serão estes "doutores" sem ciência e sem carácter, os investigadores duvidosos e futuros docentes das nossas universidades, isto vai começar a ficar complicado.
Dificilmente haverá do Ministério responsável qualquer actuação, infelizmente, sem qualquer responsabilização de doutorandos e orientadores, porque num mundo de aparências, banalidades, superficialidade e pouca essência, é do interesse dos governos em geral e das belas estatísticas em particular (a serem pomposamente apresentadas na UE civilizada e altamente qualificada) termos uma média crescente e vigorosamente galopante de cérebros brilhantes e lentes doutores... Depois estamos cá nós, no país real, para os vermos tristemente imbecis e ignorantes mas com a esperteza suficiente que os leve a ocupar um cargozito não merecido num qualquer gabinete, numa qualquer universidade, recebendo o tal dinheiro público de forma inversamente proporcional ao valor e riqueza que acrescentam ao país (AVISO: se algum "doutor" de Matemática ou MBA em Economia por acaso ler isto e não compreender esta equação, não se mace a lucubrar sobre ela, pesquise no google...).
Num tempo em que o papel e a viabilidade a médio prazo de muitas das nossas universidades começa a ficar comprometido, e em que se percebe que Mestrados (pagos pelos alunos...) servem apenas para financiar as mesmas, e Doutoramentos servem para aumentar o "grau de sapiência" meramente formal e de título, e o nível de qualificação aparente de cada uma delas (já vimos que, nestes casos, ciência e conhecimento há cada vez menos, e que por sua vez, o número de doutorados sempre dá uma ajudinha no acesso ao financiamento), então teremos de pensar no que sobra de útil e de essencial nestas instituições.
Ou então, é o meu mero e simplório grau de licenciado que não me deixa ver mais além...

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