quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Caminho do fim?

É giro quando nos podemos começar a citar a nós mesmos, e trago à baila, a propósito de recentes notícias e mexidas no mercado editorial português (de que a recente saída da obra de Saramago da editora Caminho é caso mais recente e sonante), um post meu de Novembro 2008 aqui no blog, altura em que João Ubaldo Ribeiro saía da Dom Quixote. 
O título "Terá começado a deserção?" prenunciava algo que me parecia possível e perigoso com este aglutinar de editoras referenciais portuguesas pelo grupo Leya, que de facto trouxe descontentamento entre vários autores, de diferentes editoras que este grupo juntou. A postura sempre me soou a estratégia selvática de monopolização e eliminação de concorrência pelo método mais simples e óbvio: a aquisição em série de editoras, numa visão mercantilista da área livreira e que permitiria uma gestão fácil do produto, dos autores, das vendas, da promoção dos mesmos, e uma adulteração das regras básicas do mundo editorial. 

Ao fim de 5 anos, temos os resultados - uma generalização de mau-estar e desagrado de vários autores que se têm sucedido. A ver: Mário Carvalho havia já deixado a Caminho para ingressar na Porto Editora que reeditou recentemente a sua obra; Miguel Sousa Tavares sai igualmente com a sua obra (assim como a obra de Sophia Mello Breyner saíra da Caminho) e espelha bem o seu sentimento nesta entrevista ao Público - "a Leya partiu do princípio que juntando várias editoras faziam sinergias e conseguiam fazer melhor, mas isto não é como juntar as salsichas Nobre com as salsichas Aveirense”. Na sua opinião, este grupo “matou a identidade das editoras” que agregou desde a sua fundação, em 2008. “Não creio que o grupo Leya esteja vocacionado para a edição de livros.”

João Tordo também saiu para a Porto Editora, e agora Saramago (que, ainda vivo na altura da compra da Caminho pela Leya, curiosamente demonstrou desagrado juntamente com Lobo Antunes...) deixa a Caminho e Zeferino Coelho, editores de sempre do autor, também para a Porto Editora.

Pelos vistos, percebemos agora que sinergia é diferente de supressão selectiva, e penso até ser um bom sinal esta postura de autores que admiro e que põem a sua obra e a escrita acima de qualquer outro valor, e que não abdiquem da sua identidade parece-me uma louvável constatação. O posicionamento deste grupo Leya dá agora os seus inevitáveis podres frutos e a extinção de editoras que eles vêem como meras marcas dentro da sua lógica empresarial, será o caminho que me parece evidente, numa equação de "leia-se apenas o que se vende, e venda-se o que vende". O resto é carga morta que ficará pelo caminho, azarinho.   

Numa perspectiva mais profunda, é confrangedor o estado a que chegou o nosso sector livreiro, e a propagação de uma linha e lógica de vendas mainstream com uma oferta absurdamente limitada a poucos títulos, a adesão atomizante a pretensos best-sellers estrangeiros de literatura de cordelinho que enchem as prateleiras das nossas livrarias onde se torna uma missão cada vez mais impossível encontrar os nossos geniais autores que deveríamos estar a ler e que deveriam ter o destaque primordial e distintivo que merecem. A bem de nós, da nossa língua e da nossa cultura.  

foto http://abibliofila.blogspot.pt/
Por outro lado, começam a surgir novas investidas, pequenas editoras, pequenos focos de diversidade e vida que na minha opinião irão aumentar, editando novos e interessantes autores, e o público, assim espero, irá em busca deles como sempre, como dantes. 






E que venha de lá a saudosa livraria de rua, de bairro, selectiva na sua oferta, especializada no atendimento, que não tenha corredores de livrinhos dentro de saquinhos de tecido atados com lacinhos que por acaso trazem dentro umas letrinhas, mas que tenham apenas tudo o resto, a essência dos livros e da literatura...

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O post mais picante de sempre...

A propósito de mais uma crónica (esta) de Miguel Esteves Cardoso, voltamos a ser chamados à atenção para a importância de coisas de que nunca nos lembramos na cozinha e na vida. Gosto de picantes e piri-piris (não sendo fanático, e temperar com picante depois de cozinhado confesso que raramente faço) e não abdico do seu toque nas comezainas caseiras. Confesso que os produtos Paladin já me piscaram o olho da prateleira diversas vezes, pela rotulagem e embalagem atractiva e uma certa personalidade irreverente que noto na sua abordagem ao cliente, mas nunca os trouxe para casa. Depois da recomendação de tão grande guru e com selo de qualidade MEC, será difícil continuar a resistir... 
Já em relação à Quinta da Avó, sou fã e cliente há muito tempo, e experimentei diversos produtos, de comprovada qualidade e sobretudo muito naturais e próximos do artesanal. A Massa de Pimentão picante e o Preparado Angolano estão sempre à mão, intensos e com sabor.
Depois, com alguma pesquisa é útil ficar a conhecer a escala Scoville utilizada para a classificação de intensidade picante, pelo nível de capsaicina presente quer nas malaguetas ao natural, quer de molhos a partir das mesmas. A variedade Carolina Reaper está no topo da escala das malaguetas, e pica com uns perigosos 1,6 milhões de "graus de calor" Scoville. 

Curioso por fim, ver no site do referido Scott Roberts, os nomes de alguns molhos picantes, desde o "Black Mamba Hot Sauce", o "Mad Dog's Revenge", o "Vicious Viper" cujo slogan diz tudo: You haven’t tasted HOT until you’ve been bitten by the Viper. 
Alguém se atreve?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

tiradas de música - Alfie

"I believe in love, alfie.
Without true love we just exist, alfie.

Until you find the love you've missed you're nothing, alfie.
When you walk let your heart lead the way
And you'll find love any day, alfie, alfie."

Hal David, 1966

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

os óculos na testa, o penso no dedo: a incapacidade de ver e de fazer.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Programa "NOVOS AUTORES" Domingo à 1h na RTP2

O programa "NOVOS AUTORES" da Sociedade Autores é do melhor que se faz actualmente na televisão portuguesa. Como de costume, transmitido na RTP2 ao Domingo a partir da 1h da madrugada (a horas impróprias... merecia muito melhor) e em parceria com a Antena3 (que o transmite também ao Domingo às 10h da manhã).

Moderado pelo enciclopédico Henrique Amaro e pelo Luís Oliveira, ambos "antena3istas", de modo impecável e inteligente, que vão pontuando as conversas sempre com pertinência e tacto, com conhecimento sólido e profundo das matérias, deixando fluir naturalmente os temas e reflexões dos intervenientes: sempre dois autores da música actual e contemporânea, de diferentes áreas e abordagens à arte.

O facto de recorrer exclusivamente a músicos (cantores, compositores) portugueses da actualidade (diria da vanguarda contemporânea), torna a coisa muito interessante, e tem dado um retrato pessoal muito íntimo de todos eles, tem feito perceber os mecanismos da sua criação, da sua obra, da sua forma de pensar e estar na arte e na vida, e trazido intersecções e interacções muito conseguidas entre os dois convidados. 

Uma abordagem nova, fresca e "cheia de sumo" que é óptima de acompanhar, de artistas e pessoas que tenho como grandes referências da nossa música actual (de Samuel Úria, a Jorge Cruz, Sam The Kid a Márcia, Pedro Silva Martins - Deolinda a Tó Trips, enfim...) e que fazem um retrato fiel dos artistas enquanto jovens, e dão conta da diversidade e óptimo momento criativo que atravessa a música portuguesa, como ar fresco e sadio que tanto precisamos nos tempos que correm.

Todos os episódios disponíveis no RTP Play, aqui:

Estado da arte do programa 
Numa iniciativa conjunta entre a RTP2, a Antena 3 e a Sociedade Portuguesa de Autores resulta o programa NOVOS AUTORES, uma série de 12 programas que se traduz num ciclo de conversas que se desdobram num programa de rádio e de televisão. Cada sessão tem a duração de uma hora e é preenchida por uma conversa com dois novos autores, que serão entrevistados por Henrique Amaro e Luís Oliveira.
Autores relacionados com a música portuguesa são convidados a expressar as suas ideias em variados temas, a mostrar a sua atividade, a sua visão do país e do mundo, as suas expectativas e frustrações. O carácter inovador desta parceria e do seu conteúdo tem como objetivo estimular e perceber a música portuguesa como um conceito plural, com várias pistas a seguir e com uma produção que atravessa vários géneros nestes encontros entre criadores e público. Também fica favorecida a contribuição para a divulgação de novos autores e das suas obras numa perspetiva diferente da habitual, ou seja, não se limitando a apresentar apenas os trabalhos mais recentes, mas dando destaque ao processo de criação autoral considerando que os novos tempos oferecem práticas diferentes e cada músico interpreta essas novas ferramentas de modo particular.
Gravações no Auditório Frederico de Freitas da SPA

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Restaurante Marquês de Marialva - Cantanhede


Espaço magnífico, num antigo solar no topo de um pequeno largo do centro de Cantanhede (Largo do Romal), dividido por várias salas de lugares variáveis, mas com muito bom gosto, permitindo privacidade e tranquilidade a todos os comensais. Decoração clássica, requintada mas simples, com destaque para os vinhos da Bairrada expostos pelo espaço. 
Menu e preços afixados num grande painel à entrada (apesar de já não estarem actualizados).


Recepção muito simpática pelo anfitrião (José Carlos Guerra) que aqui se apresenta há uns incríveis 36 anos, e que nos encaminha para a sala mais ao fundo, num cantinho à lareira com fogo aceso numa encantadora envolvência. 

Carta muito extensa, muitas propostas de entradas, peixes, carnes, também com opções de menus. À recepção, oferta de flute de espumante da região. Optámos pelo Polvo em vinagrete (7,5€) como entrada, impecável, polvo tenro, saboroso, equilíbrio no tempero e frescura nos ingredientes, mas poderia ter um bocado mais quantidade. Seguimos com o incontornável Bacalhau à Lagareiro (15€), simplesmente fabuloso. Provavelmente o melhor que já experimentei: posta de bacalhau de grande qualidade, bem grelhado, acompanhado por uma magnífica batata assada com pele (é incrível mas desta batata é que já não se encontra muito!), cebola e pimento verde, tudo regado com azeite de qualidade. Que mais se pede? Maravilhoso, vale a viagem só por si. 

Depois, Ossobuco (15€), chambão de vitela estufado em molho de tomate: simples, limpo nos sabores, bem confeccionado mas sem deslumbrar. Acompanhou com salada e arroz branco. No final, travessa de sobremesas à escolha, deixada na mesa: Doce de ovos, doce de uva, pêra, figos, mousse chocolate, pudim, etc. Optei apenas pelas farófias (5€), nada de especial, preço exagerado também para a quantidade.

Aliás, esta forma de apresentar as sobremesas tornou-se caricata pela ausência de abordagem por parte do empregado de mesa (e pergunto-me, comeríamos tudo por um preço mais acessível? quanto seria? Comeríamos doce de ovos à colherada? Se calhar alguém sim, mas nem um conjunto de tostas a acompanhar, ou um bolo seco por exemplo. Assim, fica apenas "esquisito" e sem um atendimento adequado, é absurdo).

Carta de vinhos ecléctica, com boas opções mas todas para a gama média alta, faltando na minha opinião mais propostas com preços atractivos (já que as margens são elevadas...), notando-se uma clara aposta em vinhos da região, espumantes incluídos, o que é um óptimo sinal. Escolhemos o Entre II Santos 2008 Tinto da Campolargo por 15€. Óptima escolha, vinho no ponto correcto com corpo e elegância, a acompanhar perfeitamente toda a refeição.

Em suma, um espaço único e marcante com uma notável história de longevidade de mais de trinta décadas, com um anfitrião afável e extremamente hospitaleiro (não acompanhado pelo outro elemento de sala, nem lá perto), com comida de grande valor mas com relação preço-qualidade já elevada, com um preço médio dificilmente inferior a 20-25€.

Restaurante Marquês de Marialva
Largo do Romal, Nº16
Cantanhede
Telf. 231420010
Email: geral@marquesdemarialva.com

Recomenda-se consulta ao site, com bastante informação (carta incluída) 
Publiquei também no Tripadvisor aqui

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O fenómeno das versões cool (fixes) de hits pop mais menos bregas (foleiros) ou o Lado B da Bida e da música

Lembro-me de ver aparecer há uns largos anos na Mtv ou seria no VH1? (1999 mais propriamente, quando a Mtv ainda era um canal de música...),

esta versão incrível pelos Travis do "Baby One More Time" primeiro grande hit da lendária Britney Spears saído nesse ano, e aquilo parecer-me genial pela roupagem dada a uma música pop banal, mas que trazia alguma novidade na ironia ou paródia subjacente à atitude. De qualquer forma, a versão era acústica e até hoje a acho brilhante.

Assim mais antigas, lembro-me por exemplo dos Cake com o "I Will Survive" de Glorya Gainor ou David Byrne com "I Wanna Dance with Somebody" da Whitney Houston.
Neste momento, percebo um certo "movimento" de coisas deste tipo a espalharem-se, com vários artistas ou bandas a trazerem covers muito próprias de músicas ou outros artistas ditos pops (eu lhes chamaria brega pop, ou pop foleiro) que estão nos antípodas do que eles mesmos fazem e produzem. Não sei o nome, ou se já tem até epíteto específico, mas se alguém souber que se pronuncie.

E devo dizer que tenho um especial interesse por isto, e é curioso ver surgir este fenómeno, e me dá um gozo muito particular ver músicas trabalhadas por esses artistas e gosto muito de as ouvir, e levanta-me várias questões: será que as músicas serão realmente interessantes, e é a forma como originalmente se apresentam que não agrada, ou há sempre um preconceito associado? Ou é apenas pela piada, pela surpresa, pelo incomum? Ou será ainda que de facto essas versões melhoram o original, ou a roupagem dada nos soa melhor e nos identificamos mais com ela? 

De facto sempre gostei disto, tendo até criado uma tag aqui no blog dos Lados B, e hoje verifico que são infinitas as possibilidades, com autênticas pérolas, desde Jamie Cullum com esta versão de "Don't Stop the music" da Rihanna ou a Yael Naim com este "Toxic" da Britney Spears (com a nossa Luísa Sobral também a apostar numa versão jazzística ao vivo do tema com direito a efeitos especiais e tudo - aqui)

Por cá, também temos outras verdadeiras maravilhas, com o David Fonseca e a mítica versão em inglês no Gato Fedorento do "Afinal havia outra" de Mónica Sintra. Se bem me lembro, este programa teve aliás uma série de "lados B" de outros artistas portugueses, desde Clã a Blind Zero. David Fonseca costuma até fazer umas brincadeiras em concerto, como esta versão de "Umbrella".

Depois temos a magnífica, deslumbrante versão da "Quinta Sinfonia" de Paco Bandeira pelo grande Samuel Úria, e enfim, a lista nacional e internacional poderia continuar quase infinitamente, e na minha opinião, com forte tendência a aumentar, o que em si, não é bom nem mau, apenas diferente...