quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

a poesia de Manoel de Barros

Diziam-me há uns tempos que isto agora é só tintos e morfes, defeito profissional justifiquei eu. Mas é facto (e Gil Miguel, não sei se continuas aí, mas espero que sim) que me afastei um pouco de outros temas, da vida real como dizem. Não é que julgue ter andado a perder grande coisa. Mas a poesia sim, confesso que às vezes ressaco dessa falta, talvez o meu eterno reduto, o meu vício visceral.
Por isso, a última compra para o meu esquisito imaginário pessoal: Poesia Completa de Manoel de Barros, pela Caminho.

Chegou até mim no Brasil, em dois pequenos livrinhos deliciosos (gastronomias à parte!) e deslumbrantes: Livro das Ignorãças e Ensaios Fotográficos. Não conhecia o autor, mas o objecto livro com aquelas ilustrações, agarraram-me no imediato. As palavras lá guardadas até hoje ficaram, duma singeleza infantil e poesia cristalina de grande assombro. Por isso, tinha de conhecer o resto, que é tanto.

A capa é esta 

POEMA
"A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios."

"Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria."

A mim basta-me, faz-me sereno e natural, como um regato por entre pedras. É isso, Manoel? Espero que sim...