segunda-feira, 17 de novembro de 2008

FOI FEITIÇO?! André Sardet

Uma das músicas mais tocadas nos últimos anos, talvez mesmo de sempre, foi a excelente balada de André Sardet, “Foi Feitiço” de seu nome… Um tema, letra e música bastante melosas, à boa maneira do rapaz coimbrão, que tocava incessantemente em todas as rádios, todos os sítios onde entrava, e cantada por milhares de entusiastas, casais apaixonados, enfim… numa ligeira náusea que já me provocava (e estou a ser meiguinho!). Sempre houve ali algo que me intrigava e me causava estranheza. Há já algum tempo decifrei o mistério, mas nunca o havia explanado devidamente. Passo a fazê-lo agora…
A musiquinha começa assim:
Eu gostava de olhar para ti
E dizer-te que és uma luz
Que me acende a noite
Me guia de dia e seduz.
Quatro versos plenos de romantismo, um início de dedicatória profundo e pegando na luz como metáfora para o amor, para a paixão que se quer expressar. Mas é evidente, se é uma luz tão forte e intensa, não conseguimos olhar para ela, como se descreve no primeiro verso, o que no mínimo…é pena.

Logo depois, continua:
Eu gostava de ser como tu
Não ter asas e poder voar
Ter o céu como fundo
Ir ao fim do mundo e voltar.
Aqui evoca-se a alma livre da pessoa em causa, a divinitas, o ser que está acima do comum dos mortais, num patamar acima de quem a ama e diviniza, aquela que voa mesmo sem asas, que tem o céu como fundo, que vai ao fim do mundo e volta, uma entidade realmente superior. Ou então, já estou a especular, talvez seja simplesmente uma hospedeira de bordo, o que explica a descrição…

Eu gostava que olhasses para mim
E sentisses que sou o teu mar
Mergulhasses sem medo
Um olhar, um segredo
Só para eu te abraçar.
Aqui, há muito pouco a dizer, continua “a gostar” mas agora que ela olhasse para ele, que o visse, enfim que correspondesse ao sentimento. E pronto, mar rima com abraçar e olhar, medo rima com segredo como podia rimar com penedo ou segafredo; tá feita mais uma quadra “para encher”.

Deixei propositadamente para o fim o refrão, porque é aqui que reside o verdadeiro motivo desta análise e da tal estranheza que sempre me suscitava este “feitiço”.

Reza assim, como todos saberemos de cor e salteado:
Eu não sei o que me aconteceu
Foi feitiço
O que é que me deu?
para gostar tanto assim de alguém
Como tu.

Então o rapazito faz uma letra de amor, romântica, cheia de lamechice e versos lindos, para depois ter um refrão, ainda por cima repetido à exaustão, em que não sabe (e estou a citar!!) o que lhe aconteceu, o que lhe deu?, para gostar tanto assim de alguém como ela. Se isto tem alguma lógica, vou ali ao fim do mundo e já volto… Quer dizer, és uma grande abécula, uma avantesma, um mono, asquerosa e desprezível, que nem chego a perceber como posso gostar tanto assim de alguém como tu. E o que faço? Escrevo uma balada de amor, onde digo isso com todas as letras no lugar mais destacado da música – o refrão. E pior, ponho Portugal inteiro a alinhar nisto e a cantar comigo em coro. Meus amigos, é de mim, ou anda tudo maluco?? Já sei, deve ser feitiço!

1 comentário:

Anónimo disse...

Vivemos num país de feitiços, não faltam músicas de "boa qualidade"!

Gostei da tua versão do laboratlarilolela, contínua, não falta "material" para contiruares

Abraço Primaço