quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

começo o ano assim...

Letreiro

Porque não sei mentir,
Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim – meu principal motivo
De insatisfação –,
Diante de qualquer adoração,
Ajuízo.
Não me sei conformar.
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso.


Prelúdio

Reteso as cordas desta velha lira,
Tonta viola que de mão em mão
Se afina e desafina, e donde ninguém tira
Senão acordes de inquietação.

Chegou a minha vez, e não hesito:
Quero ao menos falhar em tom agudo.
Cada som como um grito
Que no seu desespero diga tudo.

E arrepelo a cítara divina.
Agora ou nunca – meu refrão antigo.
O destino destina,
Mas o resto é comigo.

Miguel Torga

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