domingo, 15 de fevereiro de 2009

OBRIGADO MEU AMOR, OBRIGADO.

Recebi um livro de ti. Este, de Fernando Alves dos Santos, figura muito pouco conhecida do movimento surrealista em Portugal. Não conhecia. Conheço agora. Obrigado...
OBRIGADO
A hora vai outono dentro
(como é tarde...!)
quando
a pouca distância dos meus olhos
a minha infância derramada nos segredos da noite
espera uma palavra que toca a fechadura da minha porta de ferro
Divagando,
com um magnífico pôr de sol nas algibeiras,
pela charneca florbela (que me falou no berço)
o céu deslumbrado oferece à nossa existência
um deserto de leitos.
Obrigado meu amor, obrigado
Pelo medo da tua morte,
pela paisagem rara de humanidade,
pelos longínquos sopros do silêncio: - OBRIGADO.
Pela bela agonia do que existe,
pelo esplendoroso mar que sinto a transbordar nas trevas,
pelos relâmpagos gerados no horizonte,
pelas minhas longas mãos em torno do teu leito,
pela espuma que projecto nas estrelas,
OBRIGADO MEU AMOR, OBRIGADO.
Fernando Alves dos Santos

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