Algumas pessoas decidem colocar um gorro, tapar a cara, ficar irreconhecíveis numa rua de Nova Iorque, oferecendo dinheiro a quem quiser, 50 dólares no mínimo. Em plena Times Square, a fila vai aumentando, e a jogada de marketing é brilhante, há que reconhecer.
Outras pessoas, bem mais iluminadas, como António Fonseca, avançam num projecto comovente e empreitada sobre-humana: decorar e dizer Os Lusíadas do início ao fim. Este actor disse já hoje em Coimbra, na Oficina Municipal do Teatro, o I Canto completo, que assegura estar decorado e bem assimilado. Tenciona continuar nos próximos anos esta surreal viagem, fazendo jus a outros mares nunca navegados que figuram na dita obra. Acho, isto sim, verdadeiramente impressionante, e se conseguido, genial. Quase tão monstruoso, diria eu, como ter escrito tamanho texto. Mas é um projecto magnífico, uma ideia maravilhosa, que mostra como ainda tanto se pode fazer nos dias de hoje, como se pode fazer sair de um certo marasmo, livros com séculos em cima, e trazê-los para a beleza da palavra dita, num tempo em que tudo é cada vez mais efémero, superficial e imediato. Mesmo que não consiga, já está de parabéns, pela ideia e o ensejo.
E que "cantando espalhe por toda parte,
Se a tanto o ajudar o engenho e arte."...
2 comentários:
pá...parece-me uma coisa do género Freak Show in Coney Island. Não me parece que o decoro dos Lusíadas, como o do Código Civil se deva à Arte e ao Engenho, mas antes a uma prática união de facto (4 anos não é casamento para a vida toda) entre o cortéx temporal e talvez o hipocampo!
Devo alertar-te, meu bom amigo, que embora sejas a única pessoa a comentar no blog e seres o único "seguidor", cuidado com os bitaites, tá bem? ;) talvez a palavra aqui que causa o busílis, e por mim erradamente empregue, seja mesmo "decorar"... Não se trata de decorar, mas interpretar. Ou "falar", como ele mesmo diz. Peço desculpa pela incúria, não se repetirá... Abraço
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