A notícia é triste e lamentável: a Camaleão, associação cultural de Coimbra, vê-se obrigada a suspender a iniciativa "Quinta de Contos" que promovia no Ateneu de Coimbra desde 2001, por falta de condições financeiras, sem qualquer apoio de outras instituições, sobretudo a CMC.
A Quinta de Contos acompanhou a minha vida em Coimbra ao longo destes anos, e apesar de mais recentemente não ter possibilidade de ir, sempre ficava aquela nostalgia de querer ir, e de pelo menos, saber que lá estava, como um sonho bom.
Não sei quando foi a primeira vez, mas de certeza que terá sido mágica, como todas as outras que se seguiram.
A iniciativa da Camaleão no espaço do Ateneu de Coimbra é daqueles milagres que estão a um simples passo de nós, basta que subamos a escada junto ao largo da Sé Velha, para aquele mundo encantado. Assim, tão fácil e desgarrado, numa generosidade desmesurada de quem a fazia acontecer todos os meses. Assisti a momentos únicos de arte, convívio, comunhão em volta da palavra dita. Riso, comoção, gargalhada sincera e lágrima ao canto do olho, lições de vida, humanidade pura naqueles minutos em que os contadores se dispõem e entregam a dar um pouco de si, das suas histórias e de outros que lhes chegam ou até que inventam. Lembro-me bem da Helena (voz de algodão doce, de outro mundo), do Geraldo sempre com o humor afiado em notas de ironia genial (os dois principais impulsionadores do projecto, sempre presentes), dos convidados especiais: o Serafim, o Quico Cadaval, tantos outros, num espaço único e aconchegante que precisava também de ser vivido, de ser ocupado de vida, de companhia. E estas quintas eram também um pouco disso. Sempre acompanhado de um Porto ou um Favaios a preço de amigo, a noite iluminava-se naquele palco ao nível do chão, naquele calor de ouvidores que se juntava em grande número.
E sempre sempre, de forma gratuita. Talvez que se consiga retomar, mesmo sem apoio, não sei se com a cobrança simbólica às entradas (se soubesse que assim funcionava, sem qualquer apoio, teria tido todo o gosto em ter contribuído pagando algo à entrada), mas percebo que esse não é o espírito. Apesar de julgar que teriam a compreensão dos participantes e a adesão continuaria.
Espero que alguma coisa se possa fazer, porque esta iniciativa não pode morrer, é muito, é demasiado o que se perde e espero que se consiga forma de continuar a desfiar contos e vida no Ateneu de Coimbra. Só uma vez por mês, mas que era tanto tanto.. numa cidade onde falta cada vez mais sonho e palavras de esperança.
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