Em
"O Mundo sem Nós",
Alan Weisman faz um ensaio curioso e magnífico do que seria do nosso planeta se, assim de repente, a humanidade desaparecesse da face do mesmo. Partindo de uma hipótese académica, imagina e prevê alguns desenvolvimentos da vida do planeta depois de desaparecermos, e utilizando exemplos do mundo actual onde já nós não colocamos pé há alguns anos. Uma verdadeira referência, com um recurso a diversos especialistas em variadas matérias, dando um panorama da nossa história enquanto espécie em todos os continentes, do que temos feito ao planeta, desde os contaminantes que deixaremos como herança a várias gerações, a generalização de introdução de espécies exóticas, até ao Canal do Panamá, ao sistema de esgotos de Nova Iorque, e o que seria destes sistemas criados por nós num mundo sem nós para os mantêr funcionais.
É um livro que arrepia muitas vezes pela constatação cruel de tanta porcaria que temos feito, mas com uma visão romântica e que dá um certo prazer redentor quando divaga sobre o que se tornaria este planeta depois de partirmos, o que deixa perceber que verdadeiramente, sem nós, a Terra se safaria muito bem e se sentiria bem melhor... Um mundo em que as florestas voltariam a invadir os habitats que destruímos e ocupámos, onde a fauna maior poderia voltar a crescer em número de indivíduos e espalhar-se pelas áreas onde outrora esteve, um planeta inteiramente renaturalizado, absorvendo todas as estruturas estranhas e artificiais que criámos, não deixa de ser um cenário encantador.
E sobretudo, a percepção que nos deixa sobre o fenómeno da evolução, os seus mecanismos e poder inventivo, afastando a visão normalmente antropocêntrica que inevitavelmente temos dela. É um livro com tantas referências, com tantas ideias e possibilidades de pesquisa, que dentro do que recolhi, tentarei dar mais exemplos futuramente, desde lugares do nosso planeta a movimentos e ideologias pelo livro referidas.
Deixo apenas estas passagens, que acho demonstrativas:
"Em NY, o estorninho europeu - hoje uma praga aviária do Alaska até ao México - foi introduzido porque alguém achou que a cidade ficaria mais culta se o Central Park albergasse todas as espécies de pássaros citadas por Shakespeare."
"Os humanos acabarão por se extinguir. Tudo se extinguiu, até agora. É como a morte: não há razão para pensarmos que somos diferentes. Mas a vida irá continuar." por Doug Erwin
"Haverá muitas surpresas. Admitamo-lo: quem é que poderia ter previsto a existência das tartarugas? Quem poderia ter imaginado que um organismo se iria virar do avesso, empurrando a sua omoplata para dentro das costelas e formar uma carapaça? Se as tartarugas não existissem, nenhum biólogo de vertebrados iria sugerir que iria acontecer uma coisa assim: seria a risota de todos. A única previsão que podemos fazer é que a vida irá continuar. E que será interessante." por Doug Erwin
Resta dizer que o livro é editado em Portugal pela Estrela Polar, apesar da tradução não ser das melhores, lê-se. mais info
aqui
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