Uma das vantagens de atender os telefones à PT, é o facto de termos o Portugalinho inteiro a entrar-nos pelos headsets, vulgo auscultadores. E por outro lado, uma das coisas magníficas que tem o MEO (aquele serviço que tanta fama deve ao humorismo nacional), é o facto de ter canais premium, nomeadamente os designados "canais para adultos". E quando temos de ser nós, assistentes, a proceder à activação dos ditos, para deleite dos devidos interessados (como acontece no serviço por satélite), é um regalo. Daí a razão deste post.
Tenho assistido a tiradas do mais elevadíssimo nível, e considero que se alguém quisesse perder algum tempo, poderia fazer-se só com este simples tema, uma verdadeira tese antropológica ou sociológica do fenómeno. Qualquer coisa como "Contributos para o conhecimento do papel da cultura portuguesa na percepção individual de conteúdos de cariz erotizante nos media: Formas de activação e interacção no século XXI"
Adentrando concretamente no tema, as abordagens são diversas, distintas e específicas de pessoa para pessoa, como é evidente. Casos há, como os que tive o prazer de testemunhar, em que se denota um elevado sentido estético na visualização dos conteúdos, como aquele velhote que me entra em linha desabafando que está um pouco descontente com o grau de intensidade do canal que activou: "Sabe, eu tenho este canal, mas é demais para mim. Gosto de erótico, mas não muito forte, muito pesado. Queria assim qualquer coisa mais levezinha..."
Adentrando concretamente no tema, as abordagens são diversas, distintas e específicas de pessoa para pessoa, como é evidente. Casos há, como os que tive o prazer de testemunhar, em que se denota um elevado sentido estético na visualização dos conteúdos, como aquele velhote que me entra em linha desabafando que está um pouco descontente com o grau de intensidade do canal que activou: "Sabe, eu tenho este canal, mas é demais para mim. Gosto de erótico, mas não muito forte, muito pesado. Queria assim qualquer coisa mais levezinha..."
Ora, vem nos mais básicos manuais de qualquer profissional do ramo da assistência telefónica, a referência à proactividade e à postura de ajudar o cliente no que precisar, o que me levou necessariamente à sugestão de algo mais "soft", no que em relação a canais erotizantes temos disponível. E lá vai mais um cliente satisfeito, não sem antes chamar à atenção do assistente para a activação do canal de rambóiada na instalação que está numa determinada morada, pois tendo o mesmo titular dois serviços, não seria adequado activar no serviço que está na casa onde os netos têm o prazer de visitar o senhor e onde gostam de ver outras macacadas, não vão os miúdos dar de caras com cenas pouco aconselháveis, ainda que das mais "levezinhas"...
Seguindo para outro case-study, tive certo dia um senhor também um pouco desiludido (e percebo que nesta matéria de canais para adultos, os clientes são de facto exigentes...) pela imensa tristeza que o assolava de cada vez que assistia os filmes que passam. É que, dizia ele, "não consigo ver as legendas. Queria saber se é normal, se este canal não tem legendas. É que está tudo em inglês ou lá o que é, e eu gosto de perceber as histórias, senão não tem assunto." Abençoado senhor, indiferente ao simples mover e enrolar de corpos nus, às cenas cruas de carácter excitante, mas isso sim, fiel apaixonado do texto, do guião, da palavra dita, enfim do enredo que se cria e da criatividade do mesmo. Confesso que passei, desde esse dia, a olhar a coisa de forma muito mais romântica... mas infelizmente, neste caso, pouco houve a fazer, com muita pena minha. Fiquei a imaginar aquele pobre homem, sentado no seu sofá, olhando um ecrã vago e incompreensível, não percebendo aquela frase belíssima e profunda que o motorista diz à sua patroa loura e milionária quando se encontram casualmente sós na pisicina da mansão com o marido no estrangeiro. Eu, que percebo inglês, decerto choraria perante tão shakeaspeareano discurso, mas aquele homem, coitado, o que será dele.
É verdadeiramente curioso e interessante este fenómeno.
Para finalizar, apenas um outro exemplo, pelo simples facto de ser o nosso cliente do sexo feminino, que também as há. A senhora contacta para saber porque não consegue ver o canal 293. Assim, tal e qual - O canal 293 não está a transmitir. Ora, sendo eu um assistente com acesso óbvio a qual seria o canal que vem associado disfarçadamente (ou pelo menos, ela tentou...) a esta posição na grelha, de seu nome Private Weekend, e tendo eu a informação do que se trata, ou seja, malandrice... até achei piada ao facto da senhora considerar que chamando o boi não pelo nome mas pelo número, a coisa passava sem dar nas vistas. Todavia, estando o segredo e a chave para o facto da senhora não ver o canal a uma quarta-feira, escondido no próprio epíteto específico do mesmo, Private Weekend, lá tive de informar devidamente a senhora cliente de que o Private Weekend, que corresponde na grelha ao belo lugar 293, é um canal para adultos que sendo Private Weekend, apenas transmite aos fins de semana a horas pouco católicas, justificando assim a triste realidade de a senhora não estar a ver numa quarta-feira, o tal canal Private Weekend, ah perdão, o canal 293.
E pronto, penso que fica uma pequena amostra da complexidade do tema. Poderia versar também um pouco sobre o serviço de videoclube, que abarca filmes do mais elevado nível, e daquele rapazinho que muito indignado me transmitiu a fraca oferta de filmes para adultos, sugerindo a renovação e incremento do número de títulos disponíveis, pois já os havia visto a todos. Ainda me lembrei de salientar que o serviço MEO tem internet ilimitada. Mas arrependi-me a tempo, consciente do grau de exigência dos clientes nesta matéria. Proactividade sim, mas nem tanto. Pois...
2 comentários:
Adorei o teu post :D
Esta muito original e bastante descritivo de algumas situações carricatas que nos passam pelos ouvidos lol
Beijos
;) Beijoca
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