domingo, 4 de janeiro de 2009

COIMBRA DO CHOUPAL

Ficámos há uns dias a saber, segundo notícia aqui e aqui, que afinal vamos ser compensados, nós, malta da Lusa Atenas. Finalmente confirmado o projecto de viaduto que servirá as vias IP3/IC2/IC3 e que vai afectar "ligeiramente" a Mata do Choupal de Coimbra. O aval está dado, firmado pelo Ministério do Ambiente. E digo ligeiramente, porque todos sabemos que um corredor de betão e alcatrão de alguns quilómetros a atravessar uma mata, tem tão poucos impactos nesse ecossistema florestal e na vida dos seus bichinhos que mal se notam. Não há ruído, luminosidade, emissões, não há quebra do continuum vegetal, não há nada que possa afectar aquele monte de árvorezinhas que por ali estão, a abrigar uns pardalitos que até vão gostar do "movimento"... Acontece que esta mata não é apenas isso. E digo também que ainda por cima saímos compensados, nós, que vivemos em Coimbra, porque teremos várias árvores plantadas noutro local para podermos delas disfrutar como convém. E lá, onde estão, numa Mata que é só o melhor e mais importante espaço verde de Coimbra (ou era...), até nem fazem tanta falta. No fundo, será maravilhoso, e reflecte bem a visão actual: para os nossos desgovernantes não há árvores, há apenas créditos de carbono, não há ambiente, há economia ambiental, e toca a arranjar uns plátanos pra malta equilibrar a coisa, não vá a desflorestação afectar o balanço de emissões. Mas isto, embora triste, inacreditável e inclassificável, até já sabíamos, tamanha a actividade de um ministério que dizem existir em Portugal, e que dizem ser do ambiente. É mais ao menos, e ironicamente, como o Lince Ibérico no nosso território, dizem que há, mas ninguém o vê... E quando se vê, é para firmar assinatura em mais um projecto que em nada respeita a natureza e o nosso património natural, pelo contrário. Isso também nós já tinhamos percebido. Custa, mas custa ainda mais ter sido este documento assinado por um Sr. Humberto Rosa, secretário estado, que só por acaso se licenciou em Biologia e é Prof. Auxiliar na FCUL. Custa ser um biólogo a assinar um parecer favorável a uma obra deste tipo, numa declaração de impacte ambiental que não coloca sequer soluções e traçados alternativos, e que propõe medidas compensatórias absolutamente ridículas para o impacto que terá no Choupal. É triste, é doloroso. Não se percebe para que servem os EIA em Portugal, não se percebe para que existe o Ministério do Ambiente em Portugal, não percebo o que faz um biólogo num cargo deste tipo, quando tem este tipo de acção (ou inacção), quando o único papel que tem é o de deixar uma assinatura em jeito de parecer redentor em situações sucessivas de crimes ambientais que vão fazendo as delícias dos "evolucionistas" do betão e dos defensores do pseudo-desenvolvimento sob a capa protectora do supremo "interesse público" que tanto nos tira do que temos de melhor no país e nas nossas cidades. Trauteemos então, a letra de José Galhardo, enquanto ainda faz sentido....Coimbra do Choupal, ainda és capital do amor em Portugal, ainda...
Depois disto, talvez que nos reste ainda o amor, talvez... até que o interesse público nos obrigue também a alcatroar o coração.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nem eu me exprimia melhor, também fiquei boca aberta quando soube da notícia.

Dinheiro
Onde estão os princípios os ideais
Quando o dinheiro fala mais alto?
Que obsessão esta.
Dinheiro, poder
Todos almejam nada mais do que dinheiro
Regem suas vidas
Sobre um único objectivo.
Dinheiro.
Sociedade consumista,
Autoritária, perigosa, hipócrita.
Quem desce mais baixo para alcançar seus objectivos
quando de dinheiro se trata?
Obsessivamente, causticada
Fico paralisada perante injustiças cruéis
Provocadas pelo poder do Dinheiro.
Que fazer perante este desatino
mordaz da sociedade
Que impregna a humanidade?  A.F.