terça-feira, 21 de outubro de 2008

DIREITA, VOLVER...

Ouvi ontem pela rádio as posições políticas da "Direita" sobre as alterações ao regime jurídico do Divórcio, e a sua inerente visão. Entre os parcos e inconsistentes argumentos, lá ia um senhor deputado dizendo que se trata de um atentado social e legislativo, que passa a permitir de forma descarada que "uma das partes" possa desencadear e conseguir um divórcio por única e sua exclusiva vontade, mesmo que tendo responsabilidades directas e o que designam "faltas no cumprimento dos deveres a que se obrigaram no casamento". Ora, merece pouco comentário, parece-me óbvio.
Não vou discutir a lei, mas o príncipio em si, relacionado com este discurso. Para PSD e CDS-PP, existe uma visão (no mínimo) desactualizada da nossa sociedade actual, num conservadorismo bacoco e uma ridícula sacralização do casamento enquanto instituição, numa confusão sem qualquer nexo entre a questão civil, social e jurídica e o convencional e nem sempre (cada vez menos, diria eu!) aplicável enlace matrimonial religioso-cristão, bastião sacrossanto da nossa tão costumeira Igreja, zeladora dos bons costumes, boas práticas e puritanismos que tão bem lhe conhecemos. E uma ala politíca que teima em não perceber que o mundo já não é assim, que para tantos dos "enlaces" actuais tudo é muito mais ténue, superficial e naturalmente, terá de ser facilitado na sua quebra, quando assim um dos interessados (ou desinteressados) entende, ou mesmo os dois. Que a família, o seu conceito, mudou e cada vez mais se transforma e diversifica; que o casamento e vida miserável que tantas pessoas tiveram e têm, agrilhoadas a essa instituição sacralizada e impossível de quebrar, com toda a imagem e carga negativa que se criou e teria aos olhos dos outros se assim acontecesse, e encoberta nessa capa de felicidade e paz da relação perfeita, com todos os dramas e autênticos atentados psicológicos (e lembro-me sobretudo das mulheres, evidentemente..) que se vivem.
Não perceber, não querer perceber isto, e argumentar desta forma (aliás, à imagem dos mesmos argumentos para diabolizar a legalização do Aborto) como se alguém acordasse uma bela manhã e de forma displicente decidisse, só por desporto, divorciar-se ou fazer um aborto, porque "me apetece"... Ter esta visão ligeira das coisas, das pessoas e do que pensam, vivem e sentem, e insistir no querer zelar e defender o que está certo, o que está "de acordo" com príncipios que estes senhores definem como os correctos e únicos possíveis, esta prepotência de querer puxar para si uma autoridade e influência na vida, cabeça e poder de decisão do cidadão comum a que não têm direito e não devem ter (assentes, logo na instituição que melhor o faz, e de forma absurda e ridícula, a Igreja), numa atitude de Congregação divina e superior, omnisciente, que a todos aconselha e orienta, à imagem do típico "rebanho seguidor" que deve acatar, assumir o erro, e seguir o que está certo. Tudo isto tresanda a moralismo bafiento, a posturas e mentalidades do tempo da outra senhora, ou do outro senhor...
E não restem dúvidas: uma direita com posições e príncipios deste gabarito, estará irremediavelmente condenada ao fracasso, e pior que isso, em nada contribuirá para uma evolução positiva da nossa sociedade...
A maior ironia nesta história, não deixa de ser o actual PSD, partido em que há uma série de "casamentos" infelizes e nitidamente forçados, mas que ninguém é capaz de quebrar (ainda assim, tenho a certeza que Santana Lopes ainda há-de fundar um partido seu, que querem é a minha utopia pessoal...) por falta de coragem ou comodismo. E assim seguem felizes e unidos, até que as eleições os separem... Ámen!
Por outro lado, bem fez Paulo Portas, que chamou a si uma "união de facto" entre ele e o seu PP, muito ao jeito de "família monoparental"...

2 comentários:

Gil disse...

Ora aqui está mais um para o cabaz! Este tal de João César das Neves é até tão melodramático que acabei por verter uma lágrima.

http://dn.sapo.pt/2008/10/27/opiniao/brecha_muralha_civilizacao.html

Unknown disse...

É verdade... Está muito de acordo com o que dizia, obrigado pela achega.. A linguagem "bélica" aplicada pelo senhor percebe-se talvez pelo cargo que ocupa no "Instituto de Altos Estudos Militares", as ideias vêm da fé cristã inabalável (Prof. na Universidade Católica). Curiosos são os exemplos que utiliza, a "infâmia nazi e o holocausto judeu" e o racismo... Enfim, foram estes.. Para exemplos históricos de barbárie podia ter também utilizado outros aleatórios como as Cruzadas e a Santa Inquisição. Mas não, esses seriam demasiado óbvios.